quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

As mulheres não existem.

Cheguei a essa curiosa constatação depois de alguns anos sendo uma delas.
São feitas de papel, sonho, lágrimas, ousadia,
sensualidades, cura, saudade, mistérios, venenos, cosmos e dragões internos.

São feitas de todas estas coisas abstratas que, pensando bem, não existem.
E elas têm celulites, mais rugas, estrias a mais, e estatura a menos.
Menos músculos aparentes, menos neurônios, menos tempo, e não são menos mágicas.
Mais lindas, muito mais lindas, talvez por isso.
Porque têm mais celulites mas são elas quem usam biquíni na praia,
corajosas, cadenciadas e tão onças, cada uma. Menos estatura, menores músculos,
mas são elas que tiram os filhos do carro e levam pelo elevador, e colocam na cama.

Menos neurônios, sim, cientificamente comprovado.
Mas muito mais eficientes, porque, apesar de menos numerosos, dão muito mais resultado. Menos tempo, ainda, e muito mais: porque se subdividem em mãe,
filha, irmã, amiga, vizinha salvadora da pátria que empresta um quilo de farinha que acabou, enfermeira, mãe, mãe de novo, provedora, fera, colo, patroa, perua,
e todas as fantásticas mil mulheres que existem dentro de cada uma.

Eu tenho bem claro em mim que as mulheres não existem.
A sua essência é por demais mágica pra ser verdadeira, palpável, coisa.
Elas não existem, são obras de si mesmas,
lapidadas dia-a-dia pela força interna e inesgotável de cada uma delas.
Que nem são; como os sonhos muito bons dos quais acordamos,
como os doces tão bons que nunca provaremos,
como as melodias tão belas que nunca ninguém inventou.
O seu pecado original nem é a maçã, mas elas mesmas,
que já são a maior maravilha e subversão de Deus.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Millôr Fernandes

Nos dias quotidianos
É que se passam
Os anos.